20 novembro 2009

O amargo que passa

Assustada com o tamanho da porção de jiló que eu servi na hora do almoço, a amiga de minha sobrinha fez uma careta medonha e questionou:
_ Tia, como é que você consegue comer isso?
Eu só ri e enfiando uma garfada bem generosa na boca, respondi sorrindo:
_ Eu gosto, uai!
E ela:
_ Mas não é amargo?
Ainda de boca cheia, eu disse:
_ Sim, bastante.
E ela fez aquele ar de quem é respondido, mas não fica satisfeito com a resposta. E continuou fazendo careta a cada garfada que eu comia com satisfação. Ainda achando engraçado, pensei nas perguntas dela.
E, no fundo, a dúvida dela tinha razão de ser. Afinal, o amargo tende a ser rejeitado pelo nosso paladar. E fiquei pensando no que me leva a gostar tanto de
jiló, a ponto de ter episódios de fissura, de muita vontade mesmo de comer.
Pensei na sensação de mastigar, no gosto, que é mesmo muito amargo. Ela lá me olhando, sem entender como é que eu gostava tanto e como eu podia engolir algo amargo com aquela "boca boa".
Refleti, comparei, calculei estatísticas. Tudo isso enquanto saboreava a porção amarga do meu prato de jiló. E quando engoli a última garfada, algo se iluminou no meu cérebro já satisfeito da fome.
Levantei-me, a fim de lavar o prato e disse pra ela antes de voltar ao trabalho:
_Minha querida, eu gosto de jiló porque o amargo dele sempre acaba ao fim das refeições , ao contrário do amargo de outras coisas que não quero nem gosto de ver pela frente. E então eu posso saborear o doce, o ácido e outros sabores que o meu paladar aprecia mais.
Acho que ela não entendeu "lhufas" da minha resposta. Mas eu entendi bem...

Certos sabores amargos jamais acabam e não podem ser esquecidos!
E também são inevitáveis, portanto quanto mais cedo nos acostumamos a eles, menos caretas eles serão capazes de provocar em nós.



Pedido pra hoje: Senhor, que os sabores amargos da minha vida sempre passem tão rápido quanto o do jiló que eu adoro comer!

09 novembro 2009

Sutil para sempre



Sutil perceber
o tempo passando
as certezas, cada vez mais, indo embora
E uma briga constante com a hora.
Essa hora que parece que não é mais da gente
Que insiste em andar pra frente
que não pára e pouco se importa com aquilo que a gente sente.
Esquisito notar.
Esse tempo meu inimigo
que se arrasta quando eu quero que voe
que corre quando tudo que eu preciso
é de só mais um minuto comigo (ou contigo?).
Horrível perguntar:
E pra que mais esse minuto?
Se não há mais o que decidir
Se nem há mais o que mudar?
Se a paixão de um minuto atrás
não grita, só fala que não pode mais.
Triste concluir e confirmar
Que o pra sempre já não existe mais aqui.
Mal da idade? Maturidade?
Não importa por que não existe mais.
Só que não existe mais.
Sutil perceber.




Pedido para hoje: Alguém aí, faça com que eu não acredite mais em para sempre.


OBS: Dedicado à minha metade loira, Thatá, irmãzinha que também já percebeu (e também não foi da forma mais sutil) que o pra sempre não existe.

03 novembro 2009

Odeio

Odeio.

Quando meu salto quebra no meio do caminho num dia de chuva...
Quando meus pensamentos secretos são tão fortes que saem pela boca sem que eu perceba.
Quando os meus desejos mais secretos passam como filme nos meus olhos (traidores!).
Quando o meu coração cisma que é a parte mais importante do meu corpo.
Quando as minhas lágrimas ficam pesadas demais pra eu segurar.
Quando os meus planos ainda parecem perfeitos demais mesmo depois de darem errado.
Quando o meu amor pelos outros parece (e não é!) maior do que meu amor por mim mesma.

Odeio.

Quem acha que me conhece e se mete a dar pitaco.
Quem me conhece de fato e age como se não conhecesse.
Quem usa os meus conselhos como arma contra mim.
Quem promete que vai ficar perto e se manda assim que pode.
Quem eu mando embora e fica me enchendo o saco.
Quem aconselha sem aceitar conselhos.
Quem pensa que está certo sem saber de tudo o que interessa.
Quem tem a razão e não toma atitude alguma.

Odeio.

Dia que não decide se é de chuva ou de sol.
Sol que queima e não bronzeia.
Chuva que esfria e não molha.
Beijo que toma tempo e não causa arrepio.
Palavra que sai do nada e termina no nada.
Amor que promete fazer feliz e faz chorar.
Saudade que a gente sente e não dá pra matar.
Vontade que ocupa espaço e não tem jeito de acabar.
Dor que começa sem hora pra terminar.

Odeio, acima de tudo, odiar.

E amo acordar todos os dias e notar
que com você por perto eu não tenho nada pra odiar.

...


Obs: Dedicado a mim mesma. Rsrsrs...


Pedido pra hoje: Senhor, permita que não tenha motivo pra odiar.