28 agosto 2008

Lá vou eu de novo...

"Nunca mais vou me apaixonar!", pensou consigo Aninha, enquanto enxugava a última lágrima antes de apagar a luz e tentar dormir. Naquela noite chorou até ficar desidratada e acordou com os olhos de quem levou uns sopapos. E levou mesmo! Do destino.
Depois de meses de um tórrido namoro, que ela jurava que ia acabar no altar, o tal que ela nem ousava repetir o nome dera-lhe um homérico pé na bunda por causa de outra. Outra que agora parecia mais bonita, mais simpática, mais inteligente e muito mais esperta que ela, já que lhe tomou o namorado sem cerimônia.
Passou dias de cão, renegando sua condição de mulher e torcendo pra nascer homem na próxima encarnação. Trabalhou feito louca, dormiu em todas as horas ociosas e inventou milhões de tarefas pra realizar. Tudo pra não se lembrar dos momentos ao lado do ex. Quando se sentiu pronta, falou no assunto. Fez que não ligava mais, mas seus olhos a traíram e ela acabou por se entregar a uma torrente de lágrimas jurando que era a última vez que se apaixonava. " Não quero mais compromisso, só quero me divertir e ponto!"
Ajudada pelas amigas voltou a sair, colocou em dia a depilação, deu um trato nas melenas, enfim superou os dias difíceis, parou de chorar e deu a volta por cima. Sempre repetindo que não queria saber de homem, pelo menos não queria saber de compromisso com ninguém. Quando alguém dava mostras de paixão, fazia cara de pena e lamentava pela pessoa, vangloriando-se do seu imenso autocontrole. "Bem faço eu, que não me apaixono mais!", eram suas palavras cotidianas. Alguns a invejavam por sua capacidade, outros tinham dó de sua solidão quase constante. Muitos até a repreendiam por dispensar alguns bons partidos sem sequer lhes dar a chance de uma conversa.
Ela, mantinha-se impassível, do alto de sua segurança de pessoa não apaixonada. Isso até conhecer o Paulinho...
O Paulinho? Ele era tudo de bom! Bonito, inteligente, perfumado e um pé de valsa. As amigas caíram de amores pelo cara, mas ela resistiu, dizendo que esses eram os mais perigosos. Passaram a conviver, saíam juntos e ela jurava que ele não era mais que um amigo. Mas o Paulinho? Esse era homem vivido e entendia os medos da Aninha, principalmente depois de conhecer sua história. Ele admirava o carisma daquela mulher linda, inteligente e estava completamente apaixonado.
Aninha só pensava nele, mas não se permitia relaxar com aquele sentimento. Resultado? Afastou-se. Ele fez o que pôde pra se aproximar e com a ajuda das amigas conseguiu armar um encontro. Inocente, Aninha foi para uma reunião na casa de uma amiga. Foi do jeito que estava porque não tivera ânimo para uma produção mais elaborada. Seu astral não estava dos melhores.
Quase caiu pra trás e saiu correndo pra casa quando deu de cara com o Paulinho abrindo a porta todo perfumado e de frente para uma mesa arrumada por ele com velas e flores.
Com tanta gentileza não pôde recusar o convite e jantou com ele. Envolvida pela música curtiu momentos agradáveis e não se lembrou nem da forma como estava vestida.
Lembrou-se da noite em que chorara meses atrás por causa de alguém e da promessa que havia feito a sim mesma. Tão absorta estava em seus pensamentos que nem notou o Paulinho se aproximando lentamente. Quando deu por si ele ele já estava com os lábios a meio centímetro dos seus e ela ficou hipnotizada com aquela proximidade.
Num segundo que pareceu durar um século, recapitulou os meses anteriores àquela noite. Os dias de lágrima, a superação, as saídas sem compromisso, a solidão do seu quarto, noites em claro sem alguém pra conversar... Não teve tempo para se lembrar de mais nada, já que Paulinho tascou-lhe um beijão daqueles de cinema. Resistindo a princípio, ela ainda teve tempo de pensar: " Lá vou eu de novo!" .

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